Vale do Paraíba empresarial, resgate a grandeza!
O Vale do Paraíba Paulista tem vocação para ser grande e precisa se lembrar disso!
Na época do Império, quando a extração do ouro era a principal atividade econômica do país, a região era rota de passagem de grande parte da “produção” nacional e tinha a Casa de Fundição da Coroa Portuguesa instalada em Taubaté, tornando-se então, um dos centros estratégicos da economia nacional.
Posteriormente, se destacou através da economia açucareira, com o chamado “Capitalismo Agrário”, exportando açúcar e aguardente através dos portos de Ubatuba e Paraty.
Na economia cafeeira, o Vale do Paraíba alcançou o ápice do destaque nacional, tornando-se a capital brasileira do café. Pasin (1998), escrevendo sobre esse período afirmou:
“O café transformou o Vale Paulista na principal região econômica da província de São Paulo e numa das mais importantes regiões políticas e econômicas do Brasil-Império.”
Pasin (1998)
No ano de 1836, o Vale do Paraíba paulista produziu 85,5% de todo o café produzido no estado de São Paulo.
Com o advento do movimento industrial brasileiro, novamente o Vale do Paraíba se destaca, com a instalação da única indústria brasileira de aviação, a EMBRAER, que desde seus primórdios se obrigou a trabalhar com tecnologia de ponta e mão de obra extremamente qualificada, produzindo riquezas e gerando bons empregos.
Mas, do mesmo modo que o Vale do Paraíba tem vocação para protagonista, insiste em manter alguns “vícios”. Segundo os historiadores que se dedicaram a estudar o declínio da economia cafeeira, várias razões ocorreram para que a região deixasse de ser a capital nacional do café, perdendo o posto para o Oeste Paulista, mas as razões de maior destaque se dão por conta de um comportamento de “acomodação” por parte dos cafeicultores que concentraram toda a produção em cima de um único produto (o café), não buscaram técnicas modernas de produção, não enxergaram o crescimento da concorrência em outras regiões do estado e um alto endividamento, por acreditar que o sucesso seria duradouro.
Tal comportamento é visto novamente hoje. A desindustrialização é uma tendência para muitos países, no Brasil, a indústria nacional tradicional encolhe ano a ano. Aqui na região já sentimos o impacto disso com os recentes cortes de vagas na EMBRAER e atualmente, o fechamento da fábrica da FORD em Taubaté.
De acordo com os dados do CAGED, no ano de 2020, a região perdeu 9.700 vagas de emprego, o maior déficit foi na área industrial com a perda de 4.210 empregos.
Assim, é chegado o momento do VALE DO PARAÍBA novamente assumir sua vocação para ser grande e entrar de vez no trem da nova economia.
A economia que trará novamente o desenvolvimento para o Vale será a economia da inovação, da tecnologia, a economia do conhecimento!
Temos na região grandes polos de conhecimento, instituições de ensino públicas e privadas de primeira linha, temos um parque tecnológico moderno, temos facilidade de acesso aos dois principais polos econômicos do país (Rio e São Paulo) e muita gente desejando construir uma nova história.
Não trata-se de abandonar ou menosprezar o que temos, muito pelo contrário, temos indústrias de nível internacional na região, mas a realidade é que a economia do futuro (e do presente) não será mais industrial, não essa indústria tradicional, mas a indústria 4.0, da conexão, da tecnologia.
O setor de varejo e serviços também precisa se reinventar, já que não é mais possível acreditar que podemos continuar trabalhando da mesma forma, em um mundo onde nosso concorrente não é mais nosso vizinho, mas uma gigante do varejo norte americana ou chinesa.
Por fim, esse texto é um manifesto para que o Vale do Paraíba assuma novamente seu papel de protagonista na economia nacional e abandone seus “vícios” da acomodação e da inércia.
É necessário que agentes públicos, instituições de ensino e pesquisa, membros da sociedade civil organizada e empresários, se unam em torno de uma agenda comum de desenvolvimento tecnológico, de inovação e de atração de conhecimento especializado.
É necessário que o Vale do Paraíba seja um Vale mais High-Tech, mais moderno, mais atrativo para a ciência, tecnologia, inovadores e investidores desse mercado. Somente assim construiremos um novo ciclo de desenvolvimento econômico e social em nossa região.
Ah! E dá para fazer tudo isso sem perder nossas características e nossa identidade turística e cultural.
Aliás, é até para potencialização e sobrevivência dessa identidade que precisamos entrar de vez no século XXI.
Vamos juntos?!
Marcos A. Corrêa
Professor, Consultor e Vale Paraibano.