Home office e a maturidade na gestão de pessoas
Já não é mais novidade alguma falarmos sobre a questão do Home Office, uma tendência que já vinha se acelerando e com a Pandemia se consolidou e será agora parte do “novo normal”.
No entanto, gostaria de puxar, a partir disso, dois aspectos importantes que se formam e os desdobramentos desse fenômeno, a Cauda Longa do Trabalho e a Maturidade das Relações.
O conceito de Cauda Longa foi cunhado por Chris Anderson, em 2004, e popularizado através de seu livro de mesmo nome que apresentou à sociedade os contornos que a internet trazia no consumo de produtos. Basicamente, a ideia da Cauda Longa (representada em gráficos estatísticos), consiste no fato de que:
Antes do advento do mundo digital, nós consumíamos somente os produtos de massa e não necessariamente aquilo que desejávamos, de fato.
Simples. Antes do advento das lojas online e da música digital, nós nos dirigíamos a uma loja de CDs e comprávamos o CD que o lojista tinha disponível, logo, aquelas músicas e álbuns que poucos gostavam não eram disponibilizados, já que o custo para se manter um produto de baixa rotatividade no estoque, não compensava para o lojista (Basta pensar, quantas vezes você saiu do interior para buscar em SP, álbuns e outros na galeria do Rock, por exemplo?!).
Com o advento da internet, a explosão das lojas online e a transformação da música em algo digital (bytes), hoje é possível que você compre aquela música que somente você gosta, de uma maneira rápida e prática.
Músicas clássicas, eruditas, Beatles, Rolling Stones (início de carreira) e outros, nunca foram tão “consumidos” como agora, já que essas “preciosidades” não ocupam mais espaços físicos e podem ser disponibilizadas facilmente para diferentes pessoas ao redor do mundo.
E aqui mora a grande chave do conceito da cauda longa. Olhando por cidade/região, o consumo de alguns itens era tão pequeno que não compensava sua venda.
Tornando-o digital e acessível para uma abrangência maior, os poucos de cada região, tornam-se muito no todo. Exemplo: Talvez na sua região tenha-se somente 5 pessoas que gostem de música erudita, mas 5 multiplicado por “n” regiões, torna-se um número relevante.
Assim então surgiram nas últimas décadas os chamados “negócios de cauda longa”, como aulas de bordado e crochês muito específicos, autores de livros de gênero muito restritos, blogueiros de nicho, comunidades de jogos específicos…enfim, uma miríade de atividades que, se não fosse pelo poder de conexão e extrapolação geográfica da internet, não se sustentariam pelo simples fato de que, localmente, o consumo seria baixo.
Em última instância, a cauda longa é a grande responsável pela corrosão dos produtos/serviços de massa.
Pois bem, tal fenômeno deve começar a ocorrer agora também com relação a Mão de Obra. Quem nunca pensou em uma profissão e ao relatar a um amigo ou parente recebeu a seguinte resposta “Muito legal, mas isso aqui não rola, não tem campo, terá de ir para os grandes centros”.
E assim, fomos forjados a trabalhar naquilo que nossa região demandava ou teríamos que mudar. Com o advento do Home Office, essa dinâmica tende a mudar.
Profissões antes alocadas e presentes nos grandes centros, poderão ser exercidas a partir de pontos no interior dos estados e do país.
Programadores de jogos, meteorologistas, professores de áreas muito específicas, jornalistas especializados, designers e tantos outros, que para atuarem profissionalmente precisariam morar em grandes centros, agora poderão, a partir de sua própria localização, trabalhar com o que gostam e escolheram para sua carreira.
Talvez seu filho não precisará mais ir morar em São Paulo para atuar na área de direito internacional e relações entre países, ou mesmo atuar como jornalista especializado em Beisebol.
Essa reconfiguração do trabalho trará impactos em processos formativos também, que terão de se adaptar não mais somente a realidade local, mas também às tendências mundiais.
Por fim, essa mudança do trabalho também impactará as próprias relações de trabalho, cobrando muito mais maturidade dos envolvidos, líderes e liderados, já que a gestão desse processo não será mais por hora trabalhada.
A produtividade não será mais medida pelos “olhos” do líder, mas sobretudo, baseado em resultados obtidos.
Líderes terão de aprender a fazer gestão a distância, acompanhamento baseado em resultados e gerar engajamento em equipes com alta dispersão geográfica. Já liderados terão de ter a maturidade e o compromisso com o trabalho e saber estabelecer os limites entre trabalho e descanso, já que não teremos mais (em alguns casos) a “jornada de trabalho” e a liberação do chefe, por outro lado, poderão abarcar diferentes projetos para diferentes clientes/empregadores.
Um novo mundo que está se formando, seus contornos começam a ficar visíveis, mas seus impactos ainda não são totalmente reconhecidos.
É necessário estarmos atentos e atualizados, com a única certeza que temos, parafraseando Renato Russo “O futuro não é mais como era antigamente“.
Grande abraço e obrigado pela leitura!