Ciclo de vida das Empresas – como superar a “cilada do fundador”?
Em seu livro “Os Ciclos de Vida das Organizações”, Ichak Adizes apresenta uma esquemática evolutiva das organizações, as fases da vida de uma organização.
No desenho do autor:
1 – Toda organização nasce de um namoro;
2 – Após seu surgimento, entra na fase da infância;
3 – Se não cair na mortalidade infantil, atinge a fase do Toca-Toca;
Detalhe: E é nesse ponto que precisa nessa fase brigar com a “Cilada do Fundador” para atingir a próxima fase, a Adolescência.
Na sequência, continuando a se desenvolver, tem-se a Plenitude, Estabilidade, Aristocracia, Burocracia Incipiente, Burocracia e assim, chega-se a Morte.
Nesse texto vou me ater as primeiras fases de vida de uma organização, especificamente, os desafios da passagem da infância, para Toca-Toca e Adolescência.
Uma empresa nascente, pequena, com poucos recursos e equipe, tem uma vida semelhante a uma criança recém nascida. Seus pais (os fundadores da empresa) precisam se dedicar diuturnamente para a sobrevivência e o crescimento dessa organização. Assim como um bebê, essa empresa ainda não tem estrutura para se virar sozinha, para tudo depende de seus pais. Essa fase é importante para o desenvolvimento da empresa e de seus fundadores, semelhante ao processo de criação de um bebê, que desenvolve a criança e os pais simultaneamente.
A medida que essa empresa cresce e se livra da mortalidade infantil, ela passa da fase da infância e entra na fase do Toca-Toca, que seria uma fase semelhante a pré-adolescência.
Na vida humana, essa fase é marcada por conflitos entre pais e filhos, pois os filhos não querem ser mais controlados pelos pais, mas os pais ainda não confiam que seus filhos são suficientemente desenvolvidos para deixá-los tranquilamente. No caso das empresas a situação não é muito diferente.
Os empresários dessa fase, habituados a fazer tudo dentro da organização, dar todas as ordens, ter total controle sobre todas as ações, começam a sofrer, pois querem delegar, mas não confiam que sua equipe seja capaz de executar e “só por precaução” exigem que todas as ações passem por eles. Aos poucos, começam a se dar conta que não tem braços para tudo, trabalham muito, não tiram férias, não descansam e, ao final do dia, têm sempre a sensação de que somente “enxugaram gelo” e que amanhã começa tudo outra vez. Apagando um incêndio atrás do outro, tornam-se os bombeiros oficiais da organização.
É nesse momento que a empresa precisa vencer a “cilada do fundador”. É necessário que a empresa cresça!
Quanto melhor for o desempenho dos fundadores da organização (pais) na fase da infância, maior será a facilidade de se passar pela “cilada do fundador”. A formação de uma boa equipe, a capacidade de ensinar e transferir o que se sabe, a criação de uma cultura organizacional forte e alinhada para o crescimento, valores sólidos compartilhados, o desenho claro de uma estratégia e senso de propósito, são elementos que ajudam muito na transição de fase. O problema é que, geralmente, os fundadores, quando estão na fase da infância, sobrecarregados de tanto trabalho, não possuem tempo para olhar esses elementos, assim, quando chegam no Toca-Toca se sentem perdidos.
Para manter o crescimento da empresa, seus fundadores (os pais da criança), precisam aceitar que seus filhos cresceram e que são capazes de andar sozinhos, e se isso não é possível ainda, é necessário que se crie as estruturas.
Pense por um momento, você que é pai ou mãe de filhos adolescentes ou adultos, como seria difícil trabalhar, passear ou sair com amigos, se seu filhos ainda dependessem totalmente de você. Isso não quer dizer que você não se preocupe mais, tampouco que você vai se afastar deles, mas você tem confiança que as bases que você plantou na criação deles são fortes o suficiente para fazer com que eles tomem as melhores decisões e saibam “se virar”. Claro que eles (filhos) também sabem que, quando precisarem de vocês, podem recorrer. Assim também deve ser nas empresas.
Empresas Crianças precisam crescer!
Empresas que não vencem a infância, tornam-se fardos pesados para seus fundadores, que extasiados, tendem a produzir menos e evitar o crescimento (de maneira intencional ou não).
Claro que não trata-se somente de desejo, é necessário criar as bases para que as empresas deixem de ter dependência de seus fundadores e possam se desenvolver e crescer. É necessário que haja um processo alinhado de divisão de trabalho, desenvolvimento de lideranças, ganhos compartilhados, estratégia, propósito e valores. É necessário forjar uma cultura organizacional de crescimento, de desenvolvimento e de maturidade coletiva.
Assim, a empresa vencerá as fases iniciais de sua vida e alcançará sua plenitude com vigor e espírito forte. Obviamente, novos e diferentes problemas surgirão então, mas isso é papo para outro dia. Hoje, precisamos focar no processo de crescimento de empresas. Na transição da infância para uma empresa madura e sólida.
E você, até quando vai tratar sua empresa como um bebê que depende de você pra tudo?
Forte abraço!