Arezzo e Reserva – Ou dá muito certo ou não acontecerá nada!
Na última semana o Grupo AREZZO anunciou a compra, por R$ 715 Milhões, do grupo RESERVA. Sob a ótica econômica, um baita negócio!
A AREZZO soma ao seu grupo uma marca forte e aspiracional no segmento de classe média alta (seu target), maior parte homens (que não é o seu principal target hoje) e com uma diversidade grande de produtos (vestuário completo).
Além disso, a RESERVA possui hoje 78 lojas próprias e 32 franquias (especialidade da AREZZO), faturou cerca de R$ 400 milhões em 2019 e tem forte pegada digital.
Os ganhos de sinergia, produtividade, competência técnica e outros são indiscutíveis!
Essa união tem tudo para, realmente, transformar essa “nova” empresa em uma das maiores “House of Brands” do mundo, concorrendo de igual para igual com as maiores do setor.
Mas… no mundo real dos negócios, nem tudo é simples e a ciência nunca é exata…
O maior desafio que o novo grupo enfrenta a partir de agora é o desafio da CULTURA!
Você, leitor mais ligado no tema, pode perguntar: Mas esse desafio não é inerente a todo processo de fusões e aquisições? Sim! Mas esse é especialmente diferente e tento explicar melhor, abaixo.
A grande força da RESERVA não está em seus produtos, seu design ou mesmo em uma forte estratégia de distribuição e expansão. A grande força da RESERVA está em sua CULTURA, nos valores que a marca transmite, sobretudo personificados pelo seu sócio fundador, o brilhante Rony Meisler que agora assume como CEO desse novo braço da AREZZO;
Já a marca AREZZO não possui a mesma atitude em seu DNA, cresceu com muito trabalho, inteligência de mercado, foco no seu target e uma postura muito mais “discreta” que a companhia do Pica-Pau vermelho.
A AREZZO é uma empresa familiar, que se encontra na segunda geração de gestores, O CEO Alexandre Birman (competentíssimo) assumiu o leme depois de seu pai Anderson Birman, que continua até hoje auxiliando a empresa.
A RESERVA possui políticas claras de responsabilidade social, se comprometendo a auditar fornecedores e, fornecedores de fornecedores, no que tange a aspectos como trabalho infantil, mão de obra escrava e outros. Também possui 95% de sua produção sendo feita no país, mesmo que isso acarrete custos mais altos. Além disso, tem um estilo despojado de trabalho e atendimento, com muito profissionalismo, mas muito humana e informal.
Já a AREZZO tem ações muito tímidas na seara da responsabilidade social, somente em 2019 lançou seu manifesto se comprometendo a agir de maneira mais “responsável”.
Na primeira linha desse manifesto, a marca escreve “Aprender com sua história, olhar para trás e reformular seus processos”. Vale lembrar que em 2011 a marca se meteu em uma confusão ao utilizar peles de coelho e de raposa em sua coleção “Pelemania”. Após sofrer duras críticas na internet e ameaça de boicote a empresa cancelou a coleção, no entanto, seu presidente na época, Anderson Birman disse que não via problemas em utilizar peles na fabricação de seus produtos.
Enfim, se olharmos somente pela ótica fria dos números, das potencialidades e do Know-How de varejo, o novo grupo será realmente um sucesso e tornar-se-á um dos maiores da América Latina.
Já se olharmos os aspectos culturais, de valores e atitudes, o desafio não será tão simples assim. Pesa a favor do sucesso da empreitada, a trajetória e currículo dos envolvidos (duas trajetórias brilhantes no varejo de moda nacional), mas ainda assim, é uma história que merece ser acompanhada de perto!
Parabéns aos envolvidos na construção desse novo projeto ambicioso, toda a sorte do mundo para a nova organização que nasce e que o desafio cultural não seja um empecilho, no entanto, é um aspecto que não poderá nunca ser menosprezado.