Análise do Especialista – Shoppings Centers, o Fim de uma era!
A discussão de hoje é sobre Shoppings Centers, o fim de uma era!
Os shoppings centers chegam no Brasil nas décadas de 60 e 70. O primeiro a se instalar no país é o Shopping Iguatemi, que leva esse nome por conta do nome original da rua que está instalado em São Paulo. Nasce da genialidade do construtor visionário Alfredo Mathias, que com no mínimo 10 anos de antecedência intuiu o sucesso dos Shopping Centers e pagou caro por isso, não conseguindo colher todos os frutos de seu empreendimento.
Ao longo dos anos, o conceito de comprar tudo no mesmo lugar, com conveniência, segurança e praticidade foi ganhando adeptos e o sucesso se fez presente. Shoppings Centers passaram a ter lojistas em filas de espera, desejando que surgissem vagas e desistências de lojas para que eles pudessem entrar.
Com a alta procura por pontos, os custos também foram subindo. Taxas de aluguel, condomínio, fundos promocionais, 13º aluguel e outros, iam se somando aos demais custos dos lojistas, como mão de obra, mercadorias, merchandising, etc.
Porém, mesmo com essa alta de custos, os valores ainda valiam a pena. As vendas compensavam, principalmente devido ao fato de que tratava-se de uma opção completa de lazer. Some-se isso ao fato que a distância entre Shoppings de mesmo perfil era de, no mínimo, 50 Quilômetros, o que fazia com que o giro de visitantes fosse contínuo e sustentável.
Os anos vão passando e duas coisas acontecem e trazem o caos para o mundo dos shoppings.
A primeira, a tal da venda online. Os e-commerces invadem o território derrubando preços e trazendo comodidade aos compradores. Começa-se a repensar mil vezes antes de ir até um shopping center, encarar o trânsito na ida e na volta, enfrentar fila no estacionamento, procurar vagas, pagar estacionamentos, filas em caixas….sendo que agora têm-se a opção de comprar de casa e, quase sempre, mais barato. As maiores vítimas são as lojas de brinquedos (quantas existem hoje em Shoppings?) e eletrônicos.
A segunda causa do caos foi o crescimento acelerado do número de empreendimentos no Brasil, que fez com que os shoppings se espalhassem e entrassem em regiões que não suportavam ter uma unidade e que, por vezes, passou a ter até 3 empreendimentos. Pense você, quando os shoppings eram dispersos, havia uma “troca” constante de visitantes. Aquele que foi em um dia fazer suas compras, talvez não volte no outro dia, porém havia outro para substituí-lo. Hoje não, os shoppings têm de se contentar com o fluxo de moradores da região que, na maioria das vezes, gera picos de demanda em datas específicas, mas na maior parte do tempo ficam vazios.
No entanto, essa queda na demanda não foi acompanhada, na mesma velocidade, por uma queda nos custos. Os Shoppings continuaram a cobrar as diferentes e altas taxas, e a crise se instalou. Para se ter uma ideia, a vacância (percentual de lojas vazias esperando locação) em Shoppings novos chegou aos alarmantes índices de 46% em 2017 e 41% em 2018.
Para conter a saída de lojistas, os shoppings passam a tentar (agora) apresentar propostas muito benéficas, bem como criar pacotes e incentivos para que novos cheguem. Em 2018 a inadimplência dos lojistas de shoppings no Brasil caiu, mas o valor dos alugueis também se reduziram, ou seja, para evitar “calotes” as administradoras estão revendo para baixo os valores cobrados.
Mas ainda assim parece ser difícil segurar o movimento de vazante, de saída dos empreendimentos comerciais. Neste mês de abril, o jornal O Estadão noticiou que uma rede composta por lojas satélites de shoppings centers fundaram a Ablos (Associação Brasileira de Lojas Satélites), como uma proposta de contrapor as demais associações que, segundo a rede, privilegiam as administradoras de shoppings e as lojas âncora. Fazem parte da Ablos, lojas como TNG, VIVARA, Jogê Meias, dentre outras.
De acordo com a Ablos, as lojas âncoras, tais como as grandes redes de supermercado e lojas de departamentos, pagam no máximo 5% do faturamento a título de taxas e outros, enquanto as lojas satélites (menores) chegam a pagar até 20% de seu faturamento com taxas de aluguel e manutenção do empreendimento.
Diante desse cenário, marcas como TNG e Jogê Meias ameaçam sair dos shoppings e montar lojas nas ruas. De acordo com o CEO da marca de vestuário TNG, Tito Bessa Júnior, nos próximos 6 meses a empresa fechará de 20 a 30 lojas em shoppings.
Como resposta as administradoras de Shoppings focam em duas ações, uma de curto e uma de longo prazo. No curto prazo, cortar custos operacionais ao máximo e conceder o que for possível de benefícios para não perder lojistas. Já nas ações de longo prazo, as empresas estão trabalhando para transformar os Shoppings em Centros de Distribuição e, ao mesmo tempo, local de experiências.
As administradoras pensam que, com o avanço do comércio eletrônico, os Shoppings podem fazer a função de centro de distribuição das empresas, usando suas lojas como depósitos abertos que reduziriam o custo da última milha da entrega e/ou mesmo fariam os consumidores retirarem nos pontos de venda e, talvez, gastarem mais. Já no campo das experiências as administradoras estão investindo na criação de espaços PETs, Gourmets, serviços diversos e outros.
A situação não é fácil, impossível prever o futuro, mas uma coisa é certa, mesmo que os Shoppings se reinventem e sobrevivam, não serão mais como foram até hoje. Portanto, estamos vivendo o fim de uma era. A era em que shoppings eram sinônimos de compras, sacolas e consumismo por impulso.
Se os shoppings conseguirem sobreviver, (aqueles que conseguirem) será um outro negócio, um outro business, completamente diferente do que conhecemos até hoje.
Assim… Fim! Era uma vez os Shoppings Centers.